Arquivo de 20 de Outubro, 2008
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Eleições nos Açores
Post que coloquei hoje no “Cheira-me a Revolução”
Em 1971 tinha eu 14 anos e Portugal vivia ainda os cinzentos tempos da ditadura. Filho de funcionários públicos pouco sabia de politica e tudo o que se falava era da guerra em África e de como ela se aproximava cada vez mais para meu irmão mais velho e da possibilidade de ele ir para a Suíça se necessário. Lá em casa a musica “ambiente” era a clássica e entre os amigos o “rock” que se ia conseguindo arranjar. Nunca tive nenhuma relação com o Jazz a não ser o pequeno programa “Cinco minutos de jazz” do José Duarte que dava diariamente na rádio (ainda existe e completou 40 anos em 2006). Música estranha, que não entendia, mas que me fascinava. Foi assim que, quando ouvi falar de um Festival de Jazz em Cascais, sozinho e sem dizer nada a ninguém, fugi e me meti no comboio a caminho do pavilhão. Não entendia nada daquela música, não conhecia nenhuma daquela gente, mas ali estava eu a ouvir aqueles sons estranhíssimos, que agora sei eram “Free Jazz”. Para minha grande surpresa, a meio do concerto do Ornette Colleman, (com Dewey Redman e o fantástico baterista Ed Blackwell), um músico, Charlie Haden, se chega ao microfone e dedica o tema «Song for Che» aos movimentos de libertação em Angola e Moçambique. Nessa altura uma grande parte do público levantou-se erguendo o punho enquanto eram pendurados dois panos com as frases “Guiné Livre” e “Abaixo a Guerra Colonial”. Quando terminaram, com Dewey Redman a agradecer ao público com o punho erguido, tudo aquilo tinha sido para mim uma surpresa e uma revelação, transformando o que teria sido um simples concerto num acontecimento que marcou a minha vida. Senti pela primeira vez o terrível peso do silêncio e da falta de liberdade quando tentava falar do assunto e era mandado calar e esquecer. Claro que nunca esqueci e ainda hoje entendo a musica e a arte como uma forma de libertação, de protesto e de revolução.
Quanto ao Charlie Haden, foi transportado para a sede da PIDE e depois expulso do país, mas podem saber mais sobre o que se passou nessa noite neste texto do blog “Jazz no País do Improviso”.
A introdução ao “Grândola Vila Morena” que coloquei no post faz parte do álbum “The Ballad of the Fallen “, um dos seus três discos que gravou com a “Liberation Music Orchestra” por ele criada, e que recomendo vivamente a audição.
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A Magia laranja

Dividir para existir
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