O jornalista da SIC Mário Crespo foi sondado pelo ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, para saber da sua disponibilidade para aceitar o cargo de correspondente da RTP em Washington. A situação está a gerar algum mal-estar na administração da estação pública mas também a direção de informação da estação.
Primeiro porque a nomeação de correspondentes da RTP é uma incumbência da direção de informação, com posterior aval da administração. Depois, porque estas nomeações têm um regulamento interno com critérios bem definidos: é dada primazia aos jornalistas da RTP interessados em colocações no estrangeiro – o que não é o caso de Mário Crespo, jornalista da SIC – e os candidatos só são escolhidos após avaliação feita por um júri interno.
Esta notícia mostra várias coisas sobre quem nos governa actualmente. Em primeiro lugar que paga os favores de quem lhes fiu útil no passado recente para derrubar o governo dos socretinos, depois que são iguais a eles. Criticavam-nos por controlarem a informação da RTP mas já se viu que pensam fazer dela arma ao serviço do governo e do PSD.
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Cá se fazem, eles pagam
Todos sabemos que todos os programas de todas as nossas televisões oficiais, a começar nos telejornais, passando pelos programas de opinião até às entrevistas, existem, não para nos informar, mas sim para nos venderem as ideias que servem o sistema. Enganem-se aqueles que pensam que ainda pensam pelas suas cabeças e que o mundo que vêm é a realidade. Todos nós somos condicionados todos os dias para pensarmos como eles querem que pensemos. Vendem-nos a realidade como nos vendem televisores ou sabonetes. Em alguns programas vendem-nos a esperança e que o futuro ainda virá a ser risonho, noutros que tudo está mal, que a crise está aí e a culpa é nossa. O Plano Inclinado é um deles, onde a culpa é dos políticos, dos trabalhadores, dos desempregados, dos estudantes, dos professores, dos sindicalistas, de todos, gente burra e sem princípios que nos destrói o futuro. Privatize-se. reduzam-se direitos e salários, acabe-se com a saúde e a escola publica, miserabilize-se o país que é a única saída. Claro que a miséria que propõem não é para todos, os bons, eles e os amigos merecem cada euro que ganham, cada prémio que lhes pagam.
Vem isto a propósito desta publicação feita em Maio deste ano em Diário da Republica
cada um que tire as suas conclusões.
Na Comissão Parlamentar de Ética, Mário Crespo, mostrou a tshirt com que dorme e onde se podia ler, “Eu ainda não fui processado pelo Sócrates”.
Se tentar controlar a comunicação social através de “boys” colocados em empresas por um Primeiro-ministro é grave e lhe retira toda legitimidade de governar num estado democrático, também a isenção e objectividade de quem leva a paranóia e a obsessão para a cama, estampados numa tshirt, fica comprometida. Especialmente se a andar a mostrar na Comissão Parlamentar de Ética.
A alegada conversa entre o primeiro-ministro, o ministro de Estado, o ministro dos Assuntos Parlamentares e o executivo de televisão terá decorrido no dia da discussão do Orçamento do Estado, na passada terça-feira, em que Crespo diz ter sido “publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”)”. “Fui descrito como ‘um profissional impreparado'”, escreve o jornalista da SIC no artigo que foi publicado no site do Instituto Francisco Sá Carneiro, uma instituição de debate e reflexão política ligada ao PSD.
Gosto de ler os artigos do Mário Crespo e aprecio a sua frontalidade em chamar os bois pelos nomes, gosto de o ver afrontar o poder. Concordo com muito daquilo que diz e, em muitos casos, gostaria de ter o seu “engenho e arte” para aqui dizer o mesmo. Não gosto de o ver dar voz aos “Medinas Nostradamus Nosferatus Carreiras” que colocam a inevitabilidade de haver uma “mão de ferro”, para fazer aquilo que tem de ser feito, como se o capitalismo e a sobranceria autoritária sejam o único caminho. Não gosto de ver as acusações que faz ao Sócrates neste seu artigo, serem publicadas num “site” ligado ao PSD. Certamente que haveria jornais que publicariam o seu artigo, milhares de blogs e redes sociais que o publicariam de imediato e em uníssono se ele o desejasse. Basta ver os movimentos que por já fervilham, seja em textos de concordância, seja em grupos apoio virtuais. Não havia necessidade.
Palhaços deste meu país
Um texto do Mário Crespo publicado no JN
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.