Desculpem lá voltar ao assunto da carga policial que aconteceu no Chiado no dia da Greve Geral, mas fico chateado quando há gente a partir cabeças à minha volta de pessoas que simplesmente estavam ali a exercer o sei direito de cidadania, seja a tomar uma bebida numa esplanada, passear, ver montras ou manifestar pacificamente o seu desagrado contra o vergonhoso sistema que enriquece alguns à custa da pobreza de todos os outros. Agora para comentar a visita do Ministro ao “paralamento”. «Não houve uma intervenção gratuita no Chiado», disse Miguel Macedo aos deputados da comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. «Só depois de estar instalada uma situação de desordem pública» e dos manifestantes terem «provocado» e «praticado agressões aos agentes de autoridade» é que polícia interveio. «Quando foi forçada a intervir fê-lo de forma legítima em reacção às agressões e para repor a ordem pública», «nos termos da lei». «Não é o excesso de um, dois, três ou quatro agentes, que tiveram um comportamento desadequado que deve desmerecer o comportamento da PSP».
Chateia-me que este Ministro, a quem a minha companheira já há muitos anos dizia lembrar-lhe a cara de um nazi, vir fazer afirmações falsas, sabendo eu que são falsas porque estive lá e vi e até pelos vídeos que já correm a net, e atirar com todas as culpas para as costas de dois ou três policias que tiveram o azar de ser filmados em acções de violência gratuita e dois dos atingidos serem jornalistas. Fico sem saber se o castigo é por terem abusado da violência ou se por se terem deixado filmar a praticá-la.
Mas não fica por aqui, Miguel Macedo esclareceu ainda que os acontecimentos no Chiado surgiram numa manifestação que nada teve a ver com o desfile organizado pela central sindical CGTP. Segundo o ministro, a manifestação da CGTP decorreu sem incidentes.
Podia discordar relembrando também as cabeças partidas pelos gorilas da segurança da CGTP entre o grupo dos precários que tiveram a ousadia de tentar entrar na praça de São Bento, mas prefiro as afirmações do Deputado António Filipe que disse que não se poder responsabilizar apenas um agente, considerando que a intervenção no Chiado foi «particularmente» infeliz, porque as imagens percorreram o Mundo. Porém, sublinhou que não punha «as mãos no fogo por alguns manifestantes».
Primeiro não me parece que para um deputado de um partido que viveu a clandestinidade, a perseguição, a falta de liberdade e de democracia, fique bem considerar que aquilo que aconteceu no Chiado só é particularmente infeliz por haver imagens a correr o mundo. Não, isso não foi o mais grave, o mais grave foi o ter acontecido. Talvez para o deputado que não gosta de ver movimentos sociais independentes a desmascararem a inócua contestação social que mais não parece desejar que retirar a pressão à panela para que tudo fique como está. Talvez o deputado não ponha as mãos no fogo por alguns manifestantes, mas eu por si também não ponho as minhas e muito menos o meu voto.
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